terça-feira, 6 de setembro de 2016

E tu Jimmy!


Chegou a hora! Foi no passado dia 20. Deste-nos tudo que um verdadeiro amigo pode dar. Onze anos cheios de vida, Entraste na nossa casa num dia de Junho. Excitado, escorregavas no mais pequeno obstáculo, cheirando tudo que identificava a tua nova morada. Fomos à escola para aprendermos a conviver. Com a tua irreverência, não foi fácil. Recorda-nos uma fuga tua em plena Alameda Eça de Queiroz, em direcção à Praça Velásquez que te custou uns pontos numa pata. Caminhamos longas horas, tu pensando nos teus amores e nos teus inimigos de estimação, nós pensando na vida. Para ti não havia tristeza quando abríamos a porta de casa. A tua lógica era surpreendente. Não usavas relógio, nem telemóvel mas sabias a que horas tínhamos de assumir os nossos compromissos contigo. E quando nos atrasávamos, ficavas vigilante e atento aos nossos movimentos. Tu próprio tomavas a iniciativa de ir buscar a trela para lembrar que estava na hora do passeio

Irradiavas felicidade com a casa da aldeia, o teu lugar favorito. Deliciavas-te com a relva fresca e verdejante. Caminhavas sem destino na busca dos teus prazeres, mas sempre regressavas . Apenas falhaste num tempo de Inverno quando um nevão invadiu a aldeia. Tu e o teu amigo Nino, que também já partiu, perderam-se na busca de uma companheira,. Trilhamos vários caminhos para vos encontrar, mas em vão. Qual nosso espanto quando depois de mais uma tentativa, demos contigo a aguardar pela nossa chegada na varanda da casa, ao fim de três dias, enlameado, cansado e esfomeado mas com um olhar reprovador da nossa ausência.
Sempre percebeste os teus limites e quando nós estávamos zangados contigo. Mas não vacilavas, o teu olhar determinado fazia de nós uns aprendizes da serenidade. Nas horas de tristeza, sempre encontraste um brinquedo para nos entreter. Cinco minutos da nossa ausência, era para ti uma eternidade. Assim o expressava o teu rabo!
Não discriminavas ninguém. Quem entrasse em nossa casa era teu amigo. Zelavas pelo teu amigo Snappy como se ele fosse igual a ti e afinal era um gato. Quando lhe roubavas a comida, não conseguia disfarçar o teu olhar culpado!
Eras paciente nas doenças e foram várias, mas sempre foste forte e aceitavas o que aí vinha, confiavas em nós. A doença agora foi mais forte mas lutaste até ao fim. Nem no final deixaste de ser um lutador. Caíste de pé! É um vazio que se abre em nós. Doloroso! Difícil! Os teus donos vão sentir penosamente a tua ausência, mas irão certamente recordar, com encanto, esta bela lição que a natureza nos proporcionou. Podes crer, seremos mais tolerantes com o mundo que nos mostraste, mais exigentes com o que vale a amizade, mais firmes na defesa dos vossos direitos.

Saudade e tristeza são os sentimentos que agora nos dominam. Adeus companheiro, até sempre!


3 comentários:

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  2. Deixei de ouvir o Jimmy a descer as escadas e percepcionei que algo teria acontecido.
    Li o seu texto no Blog e fiquei profundamente emocionado, porque as suas palavras reflectem o quanto sentem de tristeza e saudade pelo amigo que Vos deixou.
    Os próximos tempos não serão fáceis, mas com o passar dos dias, a tristeza e saudade que mora dentro de Vós, com certeza irá diminuir, assim espero sinceramente.
    Proporcionou todas as condições para que o Jimmy tivesse um fim de ciclo de vida sem sofrimento e, isso só é feito por pessoas de bem.
    Um abraço.
    Luis Brito

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  3. Que texto tão sincero, bonito de forte, comovente! Foste o melhor parceiro que alguma vez podia ter encontrado para o Jimmy. A esta hora estará a celebrar com o Lucky no mundo maravilhoso dos animais dignos, distintos, imensamente meigos, companheiros...únicos...como eles tão bem souberam ser. Um abraço Pai!

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